IRMÃOS DE CORAÇÃO
O Grande Urso parou de correr, em pleno gelo.
Como era maravilhoso sentir a suavidade do vento, poder fechar os olhos e sonhar…
De repente, ouviu-se um grito vindo do rochedo sobranceiro. Seria um caçador?
O urso olhou de imediato para cima e viu uma criança a cair do céu, qual floco de neve. Devia ter escorregado e caído.
Era preciso impedi-la de cair no gelo duro e espesso.
O Grande Urso correu, mergulhou, e a criança aterrou em segurança nas suas patas enormes.
O menino estremeceu quando viu onde tinha pousado.
— Não tenhas medo — disse o Grande Urso. Colocou a criança no chão e seguiu o seu caminho. Contudo, não tinha ido longe quando ouviu chamar:
— Espera por mim! Chamo-me Minik e quero acompanhar-te.
Caminharam lado a lado até que chegaram a uma ponte de gelo. O Grande Urso foi à frente para testar a segurança da passagem e Minik seguiu-o, plenamente confiante.
Algum tempo volvido, confessou:
— Gosto de estar contigo. Sinto-me protegido. Queres ser o meu irmão mais velho?
O Grande Urso riu:
—E como posso eu lá ser o teu irmão mais velho? Somos tão diferentes!
Minik conduziu o urso até junto de uma poça de água e detiveram-se a observar o reflexo de ambos:
—Se bem reparares, somos muito parecidos quando sorrimos.
—Talvez. Mas eu sou muito mais alto do que tu — fez notar o Grande Urso. Minik subiu a um monte de neve.
—Agora já não és. Agora eu sou mais alto do que tu!
—Mas eu posso ser aterrador.
E o urso emitiu um rugido para provar o que dissera. Minik fingiu que era um pirata destemido e gritou:
—NÃO TENHO MEDO DE TI! O Grande Urso riu-se.
—Mas eu sou muito mais rápido do que tu!
O urso começou a correr e aterrou de costas.
Minik sentou-se em cima da barriga dele e começaram a deslizar juntos na neve.
—Vê como sou veloz! — exclamou o menino. — Queres ver o que sei fazer?—Minik dançou, fez malabarismos com uma bola de neve, e pôs-se a andar de pernas para o ar, com as mãos apoiadas no chão. O Grande Urso tentou copiá-lo.
—Tens toda a razão quando dizes que somos diferentes — riu-se Minik. —Mas não temos de ser iguais para sermos irmãos, pois não?
O Grande Urso não respondeu, pois sentiu que se aproximava uma tempestade.
—Temos de partir já! Caminha bem junto a mim e o meu corpo vai proteger-te do vento.
De repente, o vento começou a rugir e a neve a cair, espessa.
—Não tenhas medo, Minik! Vou levar-te para casa, Pequeno Irmão!
À medida que a tempestade se tornava mais forte, Minik começou a ficar exausto. Tropeçou duas vezes e quase caiu. Por fim, parou.
Não conseguia avançar mais.
O Grande Urso agarrou bem no menino quase desmaiado e tentou aquecê-lo com o calor do seu corpo.
Foi então que viram uma luz forte diante deles. Eram faróis.
Um homem surgiu num trenó. O urso estacou e bramiu, mas o vento abafou o seu rugido.
O homem devia ser um caçador e parecia enfurecido. Minik colocou-se diante de Grande Urso e disse:
—Agora é a minha vez de te proteger, Grande Irmão! Minik correu para o caçador e viu que era o seu pai.
—Pai! Para! — gritou. — O Grande Urso é meu amigo. Salvou-me a vida!
—Minik! — exclamou o pai. — Procurei-te por toda a parte. Estás bem? O menino não respondeu porque viu o urso começar a afastar-se.
—Espera, Grande Irmão! — pediu.
Correu a abraçá-lo e disse-lhe:
Adeus, Grande Irmão! Nunca te esquecerei!
— E tu viverás para sempre no meu coração — disse o Grande Urso.
Minik partiu no trenó do pai, sem deixar de se voltar para ver o urso desaparecer por entre a neve. A tempestade amainou tão depressa quanto começara.
Minik escutou o vento, que agora soprava com suavidade. Que bom era poder estar tranquilo, fechar os olhos e sonhar…
o)
Carl Norac
Big bear little brother
London, Macmillan Children’s, 2009
Carl Norac
Big bear little brother
London, Macmillan Children’s, 2009
(Tradução e adaptação)
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